sexta-feira, 26 de julho de 2013

Review: The Wolverine


De acordo com o grande-e-poderoso Wikipédia, um Ronin é um samurai que não segue um mestre, e não tem um destino fixo. Não vai ser o tipo de pessoa que casa, tem filhos, se aposenta e fica velho. Tem um código de honra bem especifico e uma morte honrada é sua unica recompensa. No clássico 'Eu, Wolverine', feito pela parceria entre Chris Claremont e Frank Miller, vemos a passagem de Wolverine, do animal para o homem, e sua própria construção de honra. No fim das contas, Wolverine é sua própria espada, mestre de si próprio. E como essa história, sua relação com o Japão e o encontro do que ele é  afetará o personagem, e o universo cinematográfico dos X-men. Continua abaixo, com SPOILERS.

Pra começar, vamos a história: começamos na Segunda Guerra Mundial, onde Wolverine (Hugh Jackman) é prisoneiro do exército japonês.Porém, o local e data não era nada agradáveis: Nagasaki, no dia que os americanos jogaram a bomba atômica. Após salvar o oficial do exército Yashida (Ken Yamamura quando jovem, Hal Yamanouchi quando velho), ele oferece sua espada em gratidão, mas Logan pede para guardar quando fosse a hora certa de entregar. Um salto no tempo mostra eventos acontecidos após 'X-Men 3', onde Logan está morando como um eremita nas montanhas canadenses, ainda atormentado por ter matado Jean Grey (Famke Janssen) em Alcatraz. Depois de um tempo ele é encontrado pela jovem Yukio (Rila Fukushima), filha adotiva e empregada das empresas Yashida, que quer levá-lo ao japão para se reencontrar com o o velho e moribundo Yashida.


Chegando no Japão, ele conhece a família do rico empresário: o ambicioso filho Shingen (Hiroyuki Sanada) e sua neta Mariko (Tao Okamoto). O velho Yashida fala a Logan que sua invulnerabilidade pode ser tirada e passada a outra pessoa, coisa que pode tirar a imortalidade de  Wolverine. Vendo as intenções do velho, ele nega o pedido, mas acaba envolvido por uma trama de conspirações e morte encabeçada pela cientista mutante Viper (Svetlana Khodchenkova), que revelará as verdadeiras intenções de Yashida e que levará o Wolverine a aceitar seu papel de um herói sempre a procura de uma jornada e a ideia de mortalidade, seja a dele ou das pessoas que as ama.


Temos que dar parabéns ao diretor James Mangold e Hugh Jackman ao trabalho feito no filme. 'The Wolverine. Mesmo sendo PG-13, a violência e a brutalidade do personagem foram puxadas ao extremo, e nunca vimos um Wolverine tão fiel como nas HQs como aquele mostrado nesse filme. Além disso, o tom do filme é completamente diferente visto em comparação ao outros filmes dos X-men. É muito mais urbano, com fortes elementos do cinema de ação asiáticos, e no final se aprofundando no sci-fi (já fazendo a ponte com 'Days of Future Past'). As cenas de ação são de tirar o folego, mas apostam mais na tensão do conflito do que a pirotecnia. Também é legal apontar que mesmo no começo mudando alguns elementos chave da HQs original, os twists da história trazem todos elementos de volta em seu respectivo lugar. Para mim, ainda é um filme sobre X-men, então o lado do preconceito e das diferenças também é explorado, só que por uma ótica diferente.


Como foi dito acima, o filme lida com a aceitação e afirmação. Aceitação da morte, aceitação de que o destino não está escrito, afirmação de quem e qual é seu objetivo nessa vida. Yashida procura obter a vida eterna para continua com sua compulsiva busca pelo poder, enquanto Wolverine procura abraçar a morte por não achar motivos para viver e especialmente por achar que não há mais nada por que lutar. Mariko procura fugir de seu destino, com medo de não atingir as expectativas esperadas, enquanto Yukio, personagem-espelho de Wolverine, que se aceita como é e sabe o quão boa, mesmo que todos (especialmente Shingen) diga que não. O choque das culturas, tão forte na cultura japonesa, fazem todos reverem os valores que consideraram certos sejam questionados e revisto, não afim de necessariamente quebrar a tradição, mas mostrar que ela pode ser interpretada de outras formas. Mariko e Yukio são provas vivas desse Japão dividido pelo tempo: Mariko foi criada perante uma forte e tradicional criação, enquanto Yukio teve acesso a uma cultura (pop) que todos adolescente japonês tem acesso, e isso é refletido em seu visual e personalidade.


A questão da tradição ser quebrada e das consequências disso são mostradas nas próprias atitudes de Yashida com Shingen, já que na teoria do império do pai deveria ser passado para o filho, mas acaba nas mãos da neta. Aí, o próprio samurai se torna o Ronin,e quando se confronta com o outro, será as habilidades deles e a vontade de se cumprir aquele que acham que é seu destino que farão sair vitoriosos. Shingen quer recuperar as glórias do passado, de lucrar e reconstruir a empresa de sua família, e manter as tradições, refletindo no uso da armadura do Samurai de Prata num estilo mais clássico. Já Yashida, olha por futuro com olhar ganancioso, pretendendo ter comando eterno de seus negócios, utilizando sua neta como peão dentro do jogo, e se tornando a versão modernizada do Samurai de Prata, sendo que a armadura serve não somente para combate mas também como instrumento cirúrgico.


A dualidade também está presente no papel de Harada (Will Yun Lee), chefe do Clã Ninjas das Sombras, que servem a família Yashida a gerações. Por mais que suas atitudes no filme variam na medida que os segredos sejam revelados, sabemos que ele é uma pessoa boa, mas que não tem plena consciência do que de fato está acontecendo. Uma ótima surpresa na trama é a adição de Viper, mostrando uma solução pratica da Fox de adaptar personagens que no momento estão nas mãos da Marvel Studios:  uma adaptação da Madame Viper (da H.Y.D.R.A) mas utilizado dentro de um contexto próprio do filme. Ela é forte, ela é mortal, inteligente, uma vilã realmente notável e uma ótima adição a franquia. Em resumo, ela é a interpretação mais perfeita da Hera Venenosa que (infelizmente) os fãs de Batman nunca verão nos filmes do personagem.


Uma personagem do qual participação foi bem extensa (e surpreendente) é Jean Gray, que serve de consciência para o Wolverine. Ele funciona no filme que nem o canto da Sereia, atraindo Logan para o buraco, para a ideia de que ele terá de descansar em paz. Mas isso não vai acontecer nunca com Logan, ele não nasceu para isso. Interessante de que certo modo o filme é um contro clássico do "herói que salva a princesa do vilão". Logan sente isso, abraça isso,e aproveita esses pequenos momentos de paz ao lado de Mariko em Nagasaki. Mas foi perder seus poderes e perceber que não pode proteger as pessoas que gosta e nem a si mesmo ao se permitir ficar vulnerável. Como ele mesmo diz no final, "eu sou um soldado", e um soldado não fica parado num mesmo local. ele procura ser útil onde há problemas, e procura fazer o bem sem recompensas  pro bolso, mas para o espirito. Logan se sentiu atraído por Mariko por sua fragilidade aparente, mas especialmente pela enorme sabedoria que a jovem passa, e que ajuda a enfrentar seus pesadelos.


Em termos cronológicos da Franquia X, o filme serviu para finalmente começar a jogar alguma luz sobre as muitas duvidas que surgiram com a chegada de 'First Class'. sabemos que, diferente do que se pensava, 'X-Men Origens: Wolverine' ainda conta como parte da história, o que nos faz pensar que na verdade eles estão seguindo a trajetória de Star Trek, tendo duas realidades convivendo paralelamente, sendo que em algum ponto do passado a história original foi modificada, gerando a nova linha temporal  que começou a ser apresentada em 'First Class' (No geral eu expliquei melhor sobre essa teoria aqui). Será interessante ver como essa história vai se desenrolar em 'Days of Future Past' e de como (ou se) as perguntas serão respondidas. E alias, a Fox pegou a manhã de fazer ótimas cenas pós créditos...


O que se pode dizer de defeitos no filme não chegam a exatamente estragar a experiência trazida: na metade do filme ela dá uma diminuída de ritmo a favor do desenvolvimento dos personagens, e apesar da chegada do Samurai de Prata destoar do resto do filme em termos de tom, responde as muitas perguntas e pontas soltas dentro e traz uma serie de reviravoltas que deixam o final muito mais eletrizante pelo drama do conflito do que pela ação em si (que é muito boa por sinal). No fim das contas, 'The Wolverine' é a prova concreta que os filmes dos X-Men renasceram das cinzas e vieram pra ficar com um produto de alta qualidade, diferenciado e mostrando que as capacidades com os super heróis são infinitas e que os moldes tem que ser quebrados.

NOTA : 9.0