sábado, 21 de maio de 2016

Review - X-Men: Apocalypse


A Fox nesses últimos anos pós DOFP começou de fato a planejar o seu chamado 'Universo X Cinematográfico' nas telas (já que a presença do Quarteto Fantástico, devido ao seu fracasso de bilheteria, não deve estar presente tão cedo neste meio). Depois de anos sendo o "Star Trek das adaptações de quadrinhos", chegou a hora de assim como a franquia que a de fato a inspira (seja Star Trek de fato ou as revistas dos X-men), ir para outros caminhos. No começo do ano tivemos o surpreendentemente bom Deadpool, e agora chegou a hora decisiva para a Franquia X marcar seu lugar na batalha dos "universos compartilhados" com um filme que tem a missão de não só encerrar uma trilogia mas de certo modo 6 filmes, meio que retroativamente? CONTÉM SPOILERS!

Antes de mais nada, a sinopse: Eras atrás, no Antigo Egito, En Sabah Nur (aka Apocalypse, interpretado por Oscar Isaac), o primeiro mutante da face da Terra, passa por seu processo de troca de corpo, que garante a sua imortalidade. mas no meio do processo, ele é traído, e a transferência nunca completada, deixando-o aprisionado por séculos. Enquanto isso nos anos 80, a humanidade segue num equilíbrio melhor entre mutantes e humanos, mas não completo. Mistica (Jennifer Lawrence), agora uma mercenária pró-mutantes, se tornou o rosto de uma revolução da qual ela não acha que a representa, Magneto (Michael Fassbender) tem uma nova vida com sua esposa e filha enquanto Charles Xavier (James MCvoy) cuida se Instituto para "Crianças Superdotadas" com todo seu potencial. O problema começa quando Moira McTaggert (Rose Byrne) a procura da Seita de En Sabah Nur, acaba testemunhando o retorno do mesmo, o que põe até então esses personagens separados em rota de colisão, quando Apocalypse tem planos de dizimar a terra para purificar os impuros (humanos) e fazer os fortes (mutantes) a dominarem. Enquanto os X-Men são forçado a uma volta com novos membros, Apocalypse procura seus '4 Horsemen' para ajudar a colocar seu plano de destruição em ação.


Como eu disse acima, Bryan Singer não só teve que fechar a história contada desde 'First Class' mas também de certo modo fechar os 6 filmes da saga até então, antes da expansão da franquia. E ele não só fez isso, mas fez isso muito bem, inserindo uma serie de novos-velhos mutantes com atuações e personalidades fortes o suficientes para se manter por si, mas também fez reverencia e homagens aos filmes antigos (e validos) da franquia utilizando a mesma técnica que 'Terminator: Genisys' utilizou tão bem: pegar aquilo que seria uma homenagem e inseri-la em um contexto novo, que não só se mantenha como referência mas que consiga funcionar por si só. é um adeus ao velho e um bem vindo ao novo de maneira bem fiel e respeitosa não só apos quadrinhos mas a história contada até então.


Mistica se torna uma heroína para vários mutantes, mas não sabe lidar com a pressão de ser um simbolo. Se antes ela era "mutante e orgulhosa", e em certo ponto até extremista, agora ela atua nas sombras, fazendo o pouco que pode para ajudar outros mutantes em necessidade, sem se ver necessariamente como uma heroína. Isso demonstra um certo medo e auto-culpa das falhas do passado: lembre-se, a Irmandade e alguns outros X-men foram mortos exatamente na luta por um mundo melhor, ao ver o mundo de fato salvo por um ato de não-violência, isso claramente mexeu nela e na missão que ela procura seguir. Com a chegada de Apocalypse, e a pressão por parte do Henry McCoy/Fera (Nicholas Hout), ela começa a enxergar de novo a líder em si e porque ter os X-men é algo importante para ela e o mundo.


Magneto tem a história mais triste de todas as suas aparições na tela até agora, pois aqui lhe é dado a principio algo que ele nunca teve de fato: felicidade. Vemos ele com uma esposa e uma filha (também mutante), vemos ele trabalhando, tendo relacionamento com amigos, e ver tudo isso ser destruído por um simples ato de bondade, ao usar seus poderes para salvar alguém. A consequência foi por um acidente por parte da policia matar toda sua família, deixando Eric sem vontade de viver e abraçando o seu "monstro" interior. E isso só piora quando Apocalypse chega e alimenta mais a vontade de sangue, sem saber que Quicksilver (Evan Peters, sendo genial novamente no papel) descobriu que de fato é seu filho, mas que ainda tem receio de ter um relacionamento com alguém tão volátil, parte também da sua própria dificuldade em se relacionar com os outros.


Xavier está feliz e mais seguro de si como Professor, e acredita que o mundo não precisa de "soldados, mas sim estudantes". Uma critica de Raven em relação a Charles, que é correta dentro do mundo do filme, é que Charles se fechou dentro do mundo do instituto. Ele não vê a necessidade de intervenção dos conflitos porque para ele isso não existe mais de fato, mas isso não parte de um fator egoísta de sua parte, mas de se esforçar em proteger aqueles que ama. Isso acaba por se transformar em uma alegoria ambulante na forma de Moira, que mostra que de certos problemas não se pode virar as costas e fingir que existem, nos obriga a tomar uma posição sobre e de fato ir a luta. E é isso que ele faz quando confronta o Apocalypse, mostrando o seu lado lutador e obrigando aqueles que antes o protegia debaixo de suas asas a fazer o mesmo.


Pessoalmente senti mais espaço pro Fera brilhar, apesar de que, em relação ao resto da formação antiga, ele é o que está mais em paz consigo mesmo. Ele ainda tem o fogo de lutador e quer por os X-Men de volta na ativa, mas ao mesmo tempo se sente feliz no trabalho que faz no Instituto, assim como ele claramente nutre sentimentos por Raven, mas que sempre acaba se desapontando por todos os motivos deles se reencontrarem sejam por causa do Eric. Mesmo que não mostrem isso a fundo (comentarei mais a frente sobre) é legal ver ele tendo de certo modo um final feliz, com seu objetivo de ter todos da sua velha família reunidos novamente e sendo X-men de fato.


Do pessoal novo que entrou, sem comentários. Mesmo que mais deles seria bom de se ver, provam que o futuro da franquia está em ótimas mãos. Jean Grey (Sophie Turner) tem o nível de maturidade certa de alguém que tem consciência das maravilhas e coisas terríveis que seu poder pode trazer. O Nightcrawler de Kodi-Smit McPhee mantem o mesmo nível de qualidade do Allan Cumming e Tye Sheridan finalmente trouxe o respeito ao Ciclope em tela, tendo espaço para brilhar e mostrar o que o personagem pode realmente fazer. E particularmente, achei que Jubilee (Lana Condor) deveria ter tido mais espaço, a a caracterização e interpretação dela foram ótimas e espero que tenha espaço pra ela em algum spin-off ou sequência.


E assim chegamos ao resto dos 4 Cavaleiros, que tem suas noções de quem são e o que pensam transmitidas de maneira bem simples e rápida. Storm (Alexandra Shipp) apenas sobrevive, mantendo a esperança em ícones para seguir seu dia a dia em frente. Psylocke (Olivia Munn) é uma matadora de aluguel que se sente subjugada por seu atual trabalho, sabendo que é a melhor no que faz. Angel (Ben Hardy) é um lutador, headbanger que não foge de uma briga e sucumbe ao desespero e a vícios quando sua principal arma, suas asas, são parcialmente destruídas. Apesar de não ser explorados a fundo, é de fácil entendimento do que se trata esses personagens e como Apocalypse os manipula para seu bel prazer.


E assim chegamos ao vilão principal do filme, e o que ele representa. A trama toda é um grande exercício e discussão sobre fé, e a própria existência do Apocalypse desafia esses conceitos. Temos aqui alguém com poderes praticamente ilimitados e com suas constantes conquistas acha que pode moldar o destino dos outros. Enquanto outros procuram respostas e salvação em figuras religiosas, Xavier utiliza esse mesmo conceito, mas com uma resposta diferente: a fé que depositamos no próximo é a grande resposta para a ideia de religião, e de que as nossas conexões com os outros que farão a gente se redimir. mas diferente das opções fáceis que Apocalypse dá, Xavier tem consciência de que esse não é um caminho fácil, porque na vida não há caminhos fáceis, mas que alguma hora se paga eventualmente.


E por isso mesmo que, Apocalypse também é considerado um falso deus por Charles, pois ele é aquilo que a história sempre repetiu: sempre haverá alguém que vai adquirir poderes demais que nunca vai perceber que isso é uma dadiva que é para ajudar os outros, mas que acaba se colocando como centro de tudo. Cada mutante, com suas habilidades, tem a inevitável obrigação de saber usar seus poderes e aturar as consequências de usá-los, com a consciência de que eles não vivem sozinhos e o compartilhamento é importante. Isso acaba como uma grande alegoria, o que sempre foi o ponto forte da equipe. O mundo está um pouco mais aceitável para os mutantes mas isso não signifique que isso seja um felicidade plena. Igualar os lados, matando todos os humanos ou mutantes, como se fosse uma Guerra Fria racial, o que tem que se aprender é unir os dois lados afim de um bem comum a todos.


De certo modo acaba sendo o reverso do pensamento de Bolivar Trask no filme anterior: se ele pensava que o fato dos humanos ficarem obsoletos perante os mutantes é o que acabaria a Guerra Fria, aqui entende-se que o mal uso do poder, de qualquer lado, é o que nos levaria a aniquilação. A solução do conflito final foi dado, pela mídia, como algo "divino", sendo que foram feitos por gente que lutou contra a ideia do poder absoluto. Mas demonstra-se algo interessante dentro da abordagem de se trabalhar pesadamente em cima de uma timeline real a história dos X-men, é que no fim das contas a presença dos mutantes de certo modo não afeta tanto as grande mudanças históricas, mas obriga o mundo a uma melhor percepção do próximo mesmo que tudo indique ao contrário disso. Mas nada dessa alegoria não daria certo se não tivesse Oscar Isaac por trás de uma icônica atuação e interpretação do personagem. Fala mansa, extremamente auto-confiante, ar de superioridade e de temor quando demostra seus poderes, acaba sendo digno do legado do personagem. Sendo que ia ficar maravilhoso só discursando, mas se comprova também um ótimo desafio nas acenas de ação, alternando entre a consciência e o real trazendo algo de novo para as cenas de climax em um filme de ação, uma das mais originais do gênero.


Falando disso, vale citar a fantástica aparição do Arma X (Hugh Jackman), fazendo as pessoas se empolgarem em ver o Wolverine na tela depois de um BOM tempo. E com isso vale também citar que este é, de fato, o filme mais fiel dos personagens até agora nas telas, provando o que muita gente criticava sobre Bryan Singer não conhecer e gostar dos personagens. Ele não trouxe só fidelidade visual e narrativa, mas também foi bem inteligente de auto-homenagear a franquia, como já dito aqui, fazendo as homenagens serem muito mais do que apenas isso, invocando momentos que de certa maneira fecham tematicamente a velha trilogia mas que ganham significado e profundidades completamente diferentes na nova trilogia. Esse ponto é melhor mostrado na ótima cena entre a Arma X e a Jean Grey. É empolgante ver a volta do Coronel Stryker (Josh Helman), mostrando que desde os eventos de DOFP ele tem se mantido de olho em atividades de Xavier e cia enquanto preparava seu próprio exército pessoal, ver que os Sentinelas dando as caras novamente, ver os personagens bem caracterizados, isso pra quem é fã da franquia, seja nos filmes ou nos quadrinhos, é muito recompensador.


E falando em recompensador, a cena pós créditos, apesar que pra maioria a primeira vista seja algo comum, trás imensas possibilidades para o futuro da franquia, indo além dos filmes dos 'X-men'. Essex é a empresa pertencente ao clássico vilão dos mutantes, Nathaniel Essex aka Mr Sinister, que tem envolvimento direto na criação do filho entre Jean Grey e Scott Summers, Cable, personagem que vai estar presente na sequência do Deadpool, além de poder levar o grupo de assassinos mutantes chamados Marauders as telas novamente (vocês acham que a Psylocke sobreviveu de graça no final? Eu não). Mas outro ponto importante é que eles tem o sangue do Wolverine nas mãos, que pode gerar futuramente a X-23, que deve aparecer no filme da X-Force e, aparentemente, o lobby do Bryan Singer de ter a personagem nos filmes deu certo...


Minha unica reclamação em relação ao filme é que mesmo que o pace dele seja bem fluido e a simplicidade da história (e o nível de poder do inimigo) facilite isso, ele não teve um momento de pausa, ou uma cena ou outra extra que pudesse melhor explorar as motivações de certos personagem ao invés de apenas oferecer a informação principal e ir adiante. Nos personagens já solidificados pelos filmes anteriores fica mais fácil entender suas motivações, mas isso afeta especialmente os mais novos. Há uma cena estendida e deletada dos "novos mutantes" dentro do shopping (como a imagem abaixo mostra), porém quem sofre mais nesse quesito é a Storm especialmente, do qual sua opinião dela muda no final em um estalo e mesmo você entendendo os motivos para aquilo, faltou explorar melhor a visão dela em relação aos outros Horseman, que nem seja em um só momento, pra aquilo tornar mais verossímil.


No fim, 'X-men: Apocalypse' trouxe um filme bastante divertido e uma bela carta de amor da franquia. Não é melhor que seu antecessor (que ainda é o melhor filme da saga) mas ainda sim uma sólida adição a franquia. Um filme que, mesmo sendo pesado na ação, ainda te faz pensar no real papel da fé, aonde investi-lá e o que isso de fato significa. Se o passado era confuso e aparentemente perdido, o futuro guarda agora novos horizontes e fronteiras grandiosas do nível de uma franquia e equipes de tal importância.


NOTA: 8.0

PS: Eu não sou muito fã da banda, mas a cena da transformação do Anjo é a coisa mais heavy metal já feita num filme de quadrinhos, e agradeço eternamente o Bryan Singer por isso.